SENHORA  DOS  CAMINHOS

Testemunho de Fé e de Esperança, na Benfeita!

 

Em 26 de Junho de 1966, dia de Festa do Santíssimo Sacramento, na Benfeita, com toda a pompa e circunstância, foi inaugurado um monumento à Senhora dos Caminhos, em cenário digno dos pincéis de um artista, localizado no antigo retiro da estrada para os Pardieiros, na bifurcação junto à Ponte do Cabo, do lado do Bairro do Tanque.

Estiveram presentes as autoridades locais, as três irmandades da aldeia, a filarmónica de Vila Cova do Alva e todo o povo da Benfeita.

 

As irmandades postaram-se perfiladas em cada uma das ruas que o monumento domina: a Irmandade de Nossa Senhora da Assunção, na rua para a Ponte do Cabo; a Irmandade de Nª Senhora da Paz, na rua para o bairro do Tanque e a Irmandade de S. Nicolau, na estrada para os Pardieiros.

Cercavam o monumento, mais de perto, as crianças da freguesia, umas com os seus escapulários impecáveis, de cruzados, outras no garbo das suas fardas da Mocidade Portuguesa.

Fez a bênção do monumento o Pároco Joaquim da Costa Loureiro que, no final, fez o discurso da circunstância.

Entre a gente da freguesia encontravam-se os Srs. Dr. Mário Mathias, presidente da Junta de Freguesia; José Martins Pimentel, chefe da Secretaria da Câmara Municipal de Arganil; Dr. Vítor Sanches Pinto, D. Maria Luísa Sá Viana Feitor Pinto, D. Maria da Luz Sanches Pinto, Prof. Jerónimo Sanches Pinto e esposa, e a Dra. D. Cecília Sanches Pinto.

 

Este nicho-monumento que, pelo seu enquadramento e esbelteza, a crítica da época foi unânime em elogiar e a colocar entre os mais belos construídos no distrito, deve-se à iniciativa da professora local D. Maria Margarida Sanches Pinto que lançou a ideia e fomentou a subscrição pública para angariar fundos.

Para a sua concretização participou o Pároco da freguesia que o projectou e construiu, e a Junta de Freguesia que urbanizou o local.

Desta conjugação de esforços e vontades resultou uma obra realmente bela que veio enriquecer e enobrecer a Benfeita.

A imagem, uma bela escultura em mármore branco com 70 centímetros de altura, foi executada nas oficinas de António Firmino Baptista e Irmão, de Coimbra e custou 2.750$00 (13,71€).

 

Para as despesas gerais do monumento que totalizaram a soma de 5.051$10 (25,19€), contribuíram:

Adelino Almas da Fonseca, Adelino dos Santos, Aires da Costa Prata, Alberto Francisco Nunes, Alberto Gonçalves, Alberto Luís Gonçalves, Alfredo Pedro (América do Norte), António Alberto Martins (Mina), António Bernardo Quaresma, António Leitão, António Lour.Monteiro, António Mendes dos Santos, António Luís Gonçalves, António Nunes da Costa, António Simões (Dorinda), António Oliveira Gaspar, António Quaresma Martinho, Armando Joaquim, Arminda Barroso, Artur da Costa Prata, Artur Rosário Prata, Casimiro Oliveira Azevedo, Celeste Martins Simões Feiteira, César Simões Quaresma, Eduardo Dias (Matimbe), Eduardo do Rosário, Elísio Gonçalves da Fonseca, Emília de Jesus Rosário Prata, Eugénio Fernandes da Cruz, Eurico Duarte Ribeiro, Fernando Simões Dias (Évora), Firmino Bernardo, Francisco Ferreira Nóbrega, Hermínio Filipe Dias, Ilda Brás de Carvalho, Jaime Quaresma Nunes, Joaquim dos Santos Dionísio, Joaquina Vieira Gonçalves, Jorge Frias Lourenço da Gama, José Albano, José Alberto Oliveira Gaspar, José Augusto Pereira, José Carlos das Neves, José Costa Prata, José Dias Sobrinho, José Martins Pereira (Quelimane), José Martins dos Santos, José Nunes Santos Oliveira, José dos Santos Raposo, Letícia da Fonseca (Lço.Marques), Lucília do Rosário Carvalho, Manuel das Neves, Júlio Marques (Áfr.Sul), Manuel Pereira, Maria Adelina Fernandes, Maria Amélia Mathias Teixeira Parente, Maria Celeste Rosário Soares, Maria José Mendes Correia, Maria Margarida Mathias Parente, Maria Manuela Sanches Mathias, Mário Simões Quaresma (Lço.Marques), Olívia dos Santos Costa, Ramiro Saraiva Pereira, Rogério de Sousa Martins (Moçambique), Saúl Correia Gonçalves, Susana Amália de Jesus Leitão, Urbano Dias Diniz e Zulmira da Luz Simões.

Fonte: Jornal «O Facho»

A origem dos nichos

 

O culto de Nossa Senhora, pela Mocidade Portuguesa

 

A Mocidade Portuguesa Feminina (M.P.F.), foi uma organização nacional instituída em 1937, na vigência do regime salazarista, no chamado "Estado Novo" (1926-1974), como "secção feminina da Mocidade Portuguesa, a cargo da Obra das Mães pela Educação Nacional (OMEN)".

O seu objectivo era "cultivar nas filiadas a previdência, o trabalho colectivo, o gosto da vida doméstica e as várias formas do espírito social próprias do sexo feminino, orientando para o cabal desempenho da missão da mulher na família, no meio a que pertence e na vida do Estado".

A M.P.F. promoveu diversas acções e iniciativas, de norte a sul do país, incluindo ilhas e antigos territórios ultramarinos.

Em 1962, na celebração dos 25 anos da sua existência, o Comissariado Nacional da M.P.F. lançou um desafio a todos os Centros, para a construção de Nichos Votivos a Nossa Senhora, pelas estradas e caminhos de Portugal, numa cadeia de veneração à Virgem e de pedido da sua protecção para todos os viajantes e caminhantes.

Nas palavras da dirigente nacional, o objectivo era simples: os nossos nichos serão, parodoxalmente, sentinelas de paz e de revolução - daquela revolução que a tradição cristã nunca deixa: a que cada um de nós deve operar em si mesmo, matando aquele homem, velho, egoísta e concupiscente, que sempre teima em renascer […]

Não se trata de um gesto de conservantismo beato, trata-se de levantar uma tradição que, ao longo dos séculos tornou, forte na virtude e sóbria nos costumes, a gente portuguesa. [Boletim para Dirigentes dos Centros Liceais e Técnicos, 1963/1964].

Deste excerto percebe-se que havia a consciência da ancestralidade deste costume. Estes nichos relembram as multiseculares alminhas erigidas igualmente nas encruzilhadas ou nas entradas ou saídas das povoações, contudo têm um propósito diferente; enquanto as alminhas pediam orações pelas almas penadas no purgatório, os nichos, por sua vez, resultaram de uma acção nacional, e cuja intenção era pedir ao povo português que não esquecesse a sua religiosidade cristã.

Na Benfeita, o desafio lançado em 1962, contou com a adesão da professora da Escola Primária, D.Maria Margarida Sanches Pinto que assumiu funções lectivas em 1965 e logo se interessou pela iniciativa, recebendo o apoio do pároco da aldeia e do presidente da Junta de Freguesia. Promoveu uma campanha para aquisição de fundos tendo expedido uma carta-circular aos benfeitenses e recebido o apoio imediato do Boletim Mensal da Paróquia, "O Facho", da responsabilidade do pároco da aldeia, Revº Padre Joaquim da Costa Loureiro, que tinha circulação local e regional e chegava aos benfeitenses emigrados na cidade ou fora do país e onde foram publicados várias notícias e apelos.

Após o golpe de estado de 25 de Abril de 1974 a Mocidade Portuguesa foi extinta imediatamente, por decreto da Junta de Salvação Nacional, e muitos dos nichos votivos a Nossa Senhora foram destruídos, praticando-se um verdadeiro atentado contra um facto da nossa história recente que deveria ser preservado para conhecimento das próximas gerações, sem preconceitos nem ideologias.

Segundo os dados registados pela M.P.F. terão sido erigidos, na metrópole e no ultramar, cerca de 400 nichos devotados a Nossa Senhora. O que se encontra na Benfeita é um dos poucos exemplares existentes e merece ser conservado como testemunho dum tempo que marcou o quotidiano de milhares de portugueses, do qual, sem paixões nem extremismos, devemos cada vez mais conhecer os factos.

O nicho-monumento da Senhora dos Caminhos é mais um dos motivos de interesse da Benfeita.

Site da Benfeita